Thales Monnerat

Narrador da vida vertiginosa da modernidade carioca, João do Rio se deixava
atravessar pelos acontecimentos, acasos e encantamentos presentes nas diversas
maneiras de vivenciar as ruas. Encruzilhada da vida e do mundo, elas são pontos de
chegada e de dispersão para a experiência do deslocamento povoar a paisagem urbana
através da confluência de vozes plurais, que continuam praticando a vida nas brechas do
controle, insistindo nas frestas da cidade.

Entre a Rua do Rosário e o Beco das Cancelas, a exposição coletiva “No olho da
rua”, idealizada pelo artista visual Raimundo Rodriguez, um dos fundadores do grupo
Imaginário Periférico, apresenta, a partir da colaboração de trinta artistas independentes,
múltiplos modos expressivos em diálogo com o espaço urbano, por meio de obras que
esboçam cartografias culturais polifônicas, ampliando as relações entre o sujeito e o
espaço, o dentro e o fora, a palavra e a imagem.

Aproveitando as brechas como estratégia de continuidade, na afirmação de
movimentos culturais de resistência enquanto caminho necessário, outros modos de
habitar a cidade são ensaiados pelas obras, a fim de que se renove o comum de nós,
entrelaçado no tecido urbano.

O local escolhido, um antigo casarão abolicionista, que já foi ocupado pelo jurista
Ruy Barbosa, e onde atualmente funciona o triplex do escritório jurídico Wladimyr Jung
Advogados Associados, transforma-se em galeria improvável ao receber esculturas,
pinturas, fotografias, desenhos, livros e instalações. A região já foi representada em
diversas passagens da literatura de Machado de Assis, sendo considerada, no Rio antigo,
reduto da boemia carioca, em que frequentavam sambistas, intelectuais e artistas.

Essa reorganização do mapa cultural do Rio coloca a inventividade das
manifestações artísticas “No olho da rua”, no olhar em movimento da cultura das ruas,
palco da cidade que se reinventa pela inquietação desses artistas interessados em

abarcar a experiência poética da alteridade, na partilha de sensibilidades que
ressignificam espaços, reconstroem sentidos e multiplicam encontros.

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Thales Monnerat
Mestrando pelo PPGL – Uerj, na linha de pesquisa Poéticas da contemporaneidade

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